No semestre passado a
professora solicitou a leitura do texto “A Escola conservadora: as
desigualdades frente à escola e à cultura” de Pierre Bourdieu. Não conhecia tal
autor e me dispus a lê-lo como demandava a disciplina de Antropologia da
Educação. Nem imaginava a mistura de sentimentos que tal leitura me
causaria.
Inicialmente fui tomada pelo sentimento da dúvida. Foi difícil entender as palavras do autor. Termos relacionados ao contexto sócio histórico da época se mostraram como os primeiros entraves desta leitura que tanto me desestabilizaria. Fiz a primeira leitura sem conseguir me apropriar das ideias do texto. Resolvi dar um passo para trás: reiniciar a leitura do texto buscando primeiro conhecer quem o escrevera. Para entender a essência das ideias que ali estavam sendo apresentadas precisava entender quem as desenvolvera. Precisava conhecer Pierre Bourdieu.
Busquei na internet inicialmente, e logo me deparei com o sociólogo francês Pierre Bourdieu, mencionado inúmeras vezes na rede. Optei por conhecer sua trajetória. Contradição, lutas, desestabilidade, revolta, negação, combate, ressignificação... Eram tantos os conceitos ligados à Bourdieu. Agreguei-os aos conceitos de capital cultural, êxito, fracasso e ideologia do dom que observara no texto e tudo começava a fazer sentido...ou melhor deixava de fazer sentido.
A partir deste momento a expressão “fazer sentido” norteou meu olhar e minhas conclusões. O que solidamente havia feito parte da minha trajetória de vida como verdade absoluta já não se mostrava tão verdadeiro assim...E todos os significados que atribuía aos percalços de minha trajetória não eram tão verdadeiramente meus assim...Que confusão!
Pude através da observação da minha história, sob o olhar bourdieusiano, questionar-me sobre o papel da escola. Até então entendia, como muitos, esta instituição envolta em uma áurea sacra, salvadora de todos, uma resposta positiva àqueles que assim quisessem. E o papel do professor inserido neste contexto? Consciente ou inconsciente?
Questionar estas
ideias socialmente construídas de forma tão concreta, observar as desigualdades
sendo reproduzidas por todos (até por quem pensa que não as reproduz), ver os
valores culturais como moeda de troca e de manutenção das diferenças, e nos
enxergarmos partes integrantes e “atuantes” desta sociedade, nos causa
inquietude e até um certo desespero.
Muitos sentimentos a partir daí floresceram: medo, indignação, negação, angústia... Aah!...clareza, ressignificação, conscientização... e mais dúvidas!
Fiz-me a seguinte
pergunta: E agora? Afinal, qual o papel do professor? Com a ajuda de
Pierre Bourdieu estou dando um novo (e mais concreto) significado ao nosso
papel, de professor, de aluno, de cidadão!... Não é um caminho fácil. É, muitas
vezes, meio árido. Mas está valendo muito a pena.
Tenho a convicção que
apenas avistei a “ponta do iceberg”. Quero conhecer mais... São tantos os
conflitos e contradições que nos envolvem... Prefiro conhecê-los, questioná-los
e me arriscar a entendê-los porque tal compreensão me levará a melhores
escolhas... Esta foi a minha opção e caminho. E foi ela, sem dúvida, que me
permitiu o encontro com vocês, como monitora da disciplina.