quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Encontros Universitários: a aventura da descoberta da universidade para além da sala de aula





O que eu queria ao entrar na Universidade? Um diploma e uma vida melhor. Mas não sabia exatamente o que encontraria... Não sabia que a mudança para uma vida melhor começaria mesmo antes do diploma... Na verdade, não sabia o que a universidade oferece.

Pronto: passei! E agora? Os caminhos na universidade são cheios de surpresas, desvios, obstáculos, atalhos, labirintos, alegrias e frustrações. Ao chegar aqui, senti-me lançada num vasto mundo, mas sem preparo para compreender tudo que ele oferece. Se, para alguns, a ambiente parece familiar, para outros é desconhecido e assustador.

Assim me senti, no meu primeiro contato com a Universidade. Os discursos dos professores sugeriam que o aprendizado ia muito além da sala de aula, que existiam muitas outras possibilidades a serem exploradas por nós, estudantes. Mas onde? Como alcançá-las? Essas possibilidades, em geral, estão disponíveis apenas para os estudantes dos cursos diurnos, com tempo para participar dos inúmeros eventos, encontros, simpósios e tantos outros espaços de discussão e aprendizado. Para mim, estudante de curso noturno, pareciam sempre muito distantes e, de fato, realmente são.

Neste ano de 2013 recebi o convite desafiador da professora Bernadete Beserra: fazer a seleção para uma vaga de monitora voluntária na disciplina Antropologia da Educação. Dentre algumas atividades desenvolvidas no semestre, destaco a minha participação nos Encontros Universitários. Assim como outros eventos acadêmicos, este, até então, só fazia parte do meu imaginário estudantil, envolto em uma espécie de névoa que os separavam dos espaços possíveis aos estudantes dos cursos noturnos. Mas não pude me esquivar porque faz parte das obrigações da monitora.

Primeiro passo: escrever o resumo e submetê-lo à apreciação da professora. A orientação do professor nesse momento é valiosíssima. É da sua responsabilidade garantir a clareza do texto e a sua adequação, em termos de lógica científica, gramática e estilo, à finalidade. O trabalho a ser resumido havia sido produzido na própria disciplina, no semestre anterior, quando era aluna. Ali, com a expectativa da exposição, da visibilidade, tinha que fazer o meu melhor, mas conservar a humildade do aprendiz e do conteúdo encantador e muitas vezes também frustrante do desafio do aprendizado. Lançar mão de um trabalho acadêmico, muitas vezes feito despretensiosamente, produzido e explorado de maneira tímida, e, com ele, ultrapassar os muros da sala de aula, nos amedronta e desequilibra. É desestabilizante, mas desafiador, muito desafiador.

O dia do evento se aproxima. Alguns ajustes a fazer: liberação do emprego (algumas horas apenas!); preparação do banner (com a orientação da professora-orientadora); confecção do banner; reler o trabalho feito e preparar-me para apresentá-lo. É um momento cheio de tensão e ansiedade. Como será essa universidade além da sala de aula? O desconhecido apavora.

Acompanhei todos os detalhes do evento pela página virtual da Pro-Reitoria de Graduação e no dia marcado fui ao Campus do Pici expor minha pesquisa sobre a (não) utilização do SIGAA pelos professores e alunos do curso noturno de Pedagogia. Um amplo espaço de exposição estava à nossa espera. Vários estudantes da UFC buscando um lugar para compartilhar suas experiências acadêmicas. Realmente a universidade vai muito além da sala de aula. Observar aquele espaço e todas as possibilidades de troca, de diálogos, de aprendizagem é uma experiência única. Perceber nos olhares de outros estudantes o interesse por algo que até então parecia ser apenas do nosso interesse, nos agracia e motiva. As perguntas surgem. As diferenças, as semelhanças, os questionamentos, as dúvidas... A apresentação para o professor avaliador! Que bacana transcender a sala de aula e perceber que as nossas ideias contemplam tantas pessoas!

Ali, finalmente conheci a universidade muito além da sala de aula. As dificuldades, os interesses, os objetos de estudo, os ricos programas que não nos chegam à rotineira e muitas vezes massacrante sala de aula... Os anseios, as questões, as contribuições da academia à comunidade, a interação entre os discentes e seus professores, o que estamos aprendendo, o que estamos ensinando...

Vê-se as “caras” dos cursos. Pois é, descobri também isto: que cada curso da UFC tem uma “cara”!  Muitas vezes nosso mundo restringe-se ao nosso campus, ao nosso curso, ou até à nossa sala de aula. Não percebemos assim, as diferenças, privilégios, avanços, retrocessos, as diversas classes sociais que compõem os diversos cursos... Os desafios de cada curso, de cada aluno, de cada professor. Uma possibilidade imensa de reflexão da qual não podemos abrir mão.

Eu sei que para os alunos do noturno este universo que eu recém-descobri parece quase inalcançável, mas não é! É importante que façamos parte destes espaços de discussão e que não abramos mão de aprender mais e melhor. Devemos sim, nos sentir convidados aos encontros, simpósios, colóquios e tudo mais que a universidade oferece! Ser aluno de um curso noturno não deve ser fator determinante para uma formação deficiente. São muitas possibilidades e temos direito a elas, aliás, precisamos lutar por elas!

Mas não posso deixar de ressaltar uma das maiores lições desse aprendizado: o fundamental papel do professor. A orientação e valorização por parte do professor orientador são imprescindíveis para o processo de aprendizagem. É através da troca, do diálogo e da interação que aprendemos. E esta lição eu credito à professora Bernadete Beserra.

Todos tinham razão: a Universidade vai muito além da sala de aula e eu gostei muito de experimentar isto. Convido os meus colegas do noturno - e diurno! - a também descobrirem isto!