O que eu queria ao
entrar na Universidade? Um diploma e uma vida melhor. Mas não sabia exatamente
o que encontraria... Não sabia que a mudança para uma vida melhor começaria
mesmo antes do diploma... Na verdade, não sabia o que a universidade oferece.
Pronto: passei! E
agora? Os caminhos na universidade são cheios de surpresas, desvios, obstáculos,
atalhos, labirintos, alegrias e frustrações. Ao chegar aqui, senti-me lançada
num vasto mundo, mas sem preparo para compreender tudo que ele oferece. Se,
para alguns, a ambiente parece familiar, para outros é desconhecido e
assustador.
Assim me senti, no meu
primeiro contato com a Universidade. Os discursos dos professores sugeriam que
o aprendizado ia muito além da sala de aula, que existiam muitas outras
possibilidades a serem exploradas por nós, estudantes. Mas onde? Como alcançá-las?
Essas possibilidades, em geral, estão disponíveis apenas para os estudantes dos
cursos diurnos, com tempo para participar dos inúmeros eventos, encontros, simpósios
e tantos outros espaços de discussão e aprendizado. Para mim, estudante de
curso noturno, pareciam sempre muito distantes e, de fato, realmente são.
Neste ano de 2013
recebi o convite desafiador da professora Bernadete Beserra: fazer a seleção
para uma vaga de monitora voluntária na disciplina Antropologia da Educação. Dentre
algumas atividades desenvolvidas no semestre, destaco a minha participação nos
Encontros Universitários. Assim como outros eventos acadêmicos, este, até então,
só fazia parte do meu imaginário estudantil, envolto em uma espécie de névoa
que os separavam dos espaços possíveis aos estudantes dos cursos noturnos. Mas
não pude me esquivar porque faz parte das obrigações da monitora.
Primeiro passo:
escrever o resumo e submetê-lo à apreciação da professora. A orientação do
professor nesse momento é valiosíssima. É da sua responsabilidade garantir a
clareza do texto e a sua adequação, em termos de lógica científica, gramática e
estilo, à finalidade. O trabalho a ser resumido havia sido produzido na própria
disciplina, no semestre anterior, quando era aluna. Ali, com a expectativa da
exposição, da visibilidade, tinha que fazer o meu melhor, mas conservar a
humildade do aprendiz e do conteúdo encantador e muitas vezes também frustrante
do desafio do aprendizado. Lançar mão de um trabalho acadêmico, muitas vezes
feito despretensiosamente, produzido e explorado de maneira tímida, e, com ele,
ultrapassar os muros da sala de aula, nos amedronta e desequilibra. É desestabilizante,
mas desafiador, muito desafiador.
O dia do evento se
aproxima. Alguns ajustes a fazer: liberação do emprego (algumas horas apenas!);
preparação do banner (com a orientação da professora-orientadora); confecção do
banner; reler o trabalho feito e preparar-me para apresentá-lo. É um momento cheio
de tensão e ansiedade. Como será essa universidade além da sala de aula? O
desconhecido apavora.
Acompanhei todos os
detalhes do evento pela página virtual da Pro-Reitoria de Graduação e no dia
marcado fui ao Campus do Pici expor minha pesquisa sobre a (não) utilização do
SIGAA pelos professores e alunos do curso noturno de Pedagogia. Um amplo espaço
de exposição estava à nossa espera. Vários estudantes da UFC buscando um lugar
para compartilhar suas experiências acadêmicas. Realmente a universidade vai
muito além da sala de aula. Observar aquele espaço e todas as possibilidades de
troca, de diálogos, de aprendizagem é uma experiência única. Perceber nos
olhares de outros estudantes o interesse por algo que até então parecia ser
apenas do nosso interesse, nos agracia e motiva. As perguntas surgem. As
diferenças, as semelhanças, os questionamentos, as dúvidas... A apresentação
para o professor avaliador! Que bacana transcender a sala de aula e perceber
que as nossas ideias contemplam tantas pessoas!
Ali, finalmente conheci
a universidade muito além da sala de aula. As dificuldades, os interesses, os
objetos de estudo, os ricos programas que não nos chegam à rotineira e muitas
vezes massacrante sala de aula... Os anseios, as questões, as contribuições da
academia à comunidade, a interação entre os discentes e seus professores, o que
estamos aprendendo, o que estamos ensinando...
Vê-se as “caras” dos
cursos. Pois é, descobri também isto: que cada curso da UFC tem uma “cara”! Muitas vezes nosso mundo restringe-se ao
nosso campus, ao nosso curso, ou até à nossa sala de aula. Não percebemos
assim, as diferenças, privilégios, avanços, retrocessos, as diversas classes
sociais que compõem os diversos cursos... Os desafios de cada curso, de cada
aluno, de cada professor. Uma possibilidade imensa de reflexão da qual não
podemos abrir mão.
Eu sei que para os
alunos do noturno este universo que eu recém-descobri parece quase inalcançável,
mas não é! É importante que façamos parte destes espaços de discussão e que não
abramos mão de aprender mais e melhor. Devemos sim, nos sentir convidados aos
encontros, simpósios, colóquios e tudo mais que a universidade oferece! Ser
aluno de um curso noturno não deve ser fator determinante para uma formação
deficiente. São muitas possibilidades e temos direito a elas, aliás, precisamos
lutar por elas!
Mas não posso deixar de
ressaltar uma das maiores lições desse aprendizado: o fundamental papel do
professor. A orientação e valorização por parte do professor orientador são
imprescindíveis para o processo de aprendizagem. É através da troca, do diálogo
e da interação que aprendemos. E esta lição eu credito à professora Bernadete
Beserra.
Todos tinham razão: a
Universidade vai muito além da sala de aula e eu gostei muito de experimentar
isto. Convido os meus colegas do noturno - e diurno! - a também descobrirem
isto!